A maternidade é uma experiência que exige entrega física, emocional e psicológica. Entretanto, existe um aspecto da vivência materna que, muitas vezes, é silenciado ou ignorado: o impacto do ciclo menstrual na vida da mulher que também é mãe.
Enquanto a sociedade romantiza a maternidade como uma capacidade infinita de doação, a realidade é que o corpo materno continua a existir em sua plena biologia e isso inclui as oscilações hormonais, a TPM e o sangramento mensal. Ser mãe não suspende o funcionamento do ciclo reprodutivo, nem reduz seus efeitos.
A TPM e a Maternidade: Um Desafio Invisível
Durante a Tensão Pré-Menstrual (TPM) e o período menstrual, é comum que a mulher experiencie alterações hormonais que influenciam o humor, a energia, a capacidade de concentração e a regulação emocional.
Entre os sintomas mais relatados estão:
- Irritabilidade e impaciência;
- Cansaço físico exacerbado;
- Hipersensibilidade emocional;
- Dores corporais e desconforto abdominal;
- Dificuldade de foco e de tolerância à frustração.
Esses sintomas, que já seriam desafiadores em qualquer contexto, tornam-se ainda mais intensos quando somados à carga mental e emocional da maternidade.
Não se trata apenas de “dias difíceis”. Para muitas mulheres, é um verdadeiro embate interno: a necessidade fisiológica de recolhimento entra em conflito com a pressão externa para manter a rotina, atender às necessidades dos filhos e sustentar o funcionamento da casa.
O Ciclo Menstrual Como Convite ao Autocuidado
Em uma sociedade que valoriza a produtividade constante, a TPM e a menstruação podem ser vividas como “obstáculos” a serem superados. No entanto, sob o olhar da Psicologia Perinatal e da Saúde Mental Materna, podemos propor uma reflexão diferente:
E se o ciclo menstrual fosse entendido como um convite natural ao autocuidado?
As necessidades emocionais e físicas que emergem nesse período não são sinais de fraqueza. São sinais de que o corpo pede pausa, acolhimento e gentileza. Ouvir essas necessidades, mesmo que de maneira adaptada à rotina da maternidade, é um ato de respeito a si mesma e de responsabilidade emocional para com aqueles que estão sob seus cuidados.
Práticas Para Acolher a Si Mesma Durante o Ciclo
Algumas atitudes podem ajudar a tornar esse período mais leve:
- Reconhecer e nomear suas emoções sem julgamento;
- Priorizar tarefas essenciais e delegar o que for possível;
- Estabelecer momentos de pausa, ainda que breves;
- Comunicar de forma assertiva suas necessidades à família;
- Cultivar práticas de autocuidado que respeitem seu estado físico e emocional.
Ser mãe e estar menstruada é carregar dois processos potentes e desafiadores ao mesmo tempo. Não se trata de ser menos mãe; trata-se de ser plenamente humana.
Ao reconhecer seus próprios ciclos, a mulher não apenas cuida de si, mas ensina aos seus filhos — com o exemplo — que respeitar os próprios limites é uma forma de amor e de saúde emocional.
A maternidade real é feita de dias bons e dias difíceis. E em todos eles, você continua sendo suficiente.
Clínica Aretê
Kariane Messias Psicológa